quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Dicionário da Capoeira

- A -
Abadá - s. m. 1. Camisolão folgado e comprido usado pelos nagôs, semelhante ao traje nacional da Nigéria (Aurélio). Waldeloir Rego diz: "No Cais do Porto sempre estiveram os mais famosos capoeiras, mas a roupa usual, na sua atividade de trabalho, era calça comum, com bainha arregaçada, pés descalços e camisa tipo abadá, feita de saco de açúcar ou farinha do reino, e nas horas de folga do trabalho, assim se divertiam jogando sua capoeira." 2. Associação Brasileira de Apoio e Desenvolvimento da Arte - Capoeira, a Abadá-Capoeira, criada em 1988 por mestre Camisa, irmão mais novo do mestre Camisa Roxa (um dos bambas de mestre Bimba). Durante 15 anos, mestre Camisa pertenceu ao grupo Senzala de Capoeira, para depois sair e fundar a Abadá-Capoeira.
Abalá - v. Corruptela de abalar (v.) Origem controvertida. José Leite de Vasconcelos ("Etimologias Portuguêsas", in Revista Lusitana, v.II., p.267), em parecer aceito por José Pedro Machado (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa), propõe o latim hipotético "advalare" (ad vallen), na idéia de "ir para baixo", e depois, por generalização do significado, "pôr-se em movimento", etc.
Abará - [Do ioruba] s. m. Pequeno bolo de feijão, ralado sem a casca, condimentado e cozinhado em banho-maria envolvido em folhas de bananeira.
ABCA - Sigla da Associação Brasileira de Capoeira Angola, a mais representativa entidade de Capoeira Angola da Bahia, que teve efetivada a sua criação por influência de intelectuais e capoeiristas. Funciona hoje no casarão amarelo da Rua Gregório de Mattos, no Centro Histórico de Salvador/BA. Teve como primeiro presidente Mestre João Pequeno de Pastinha, e da primeira diretoria faziam parte também os mestres Moraes, Cobrinha Mansa, Jogo de Dentro e Barba Branca....
Afoxé - s. m. Procissão ritual de um candomblé, que durante o Carnaval vai se misturar com a festa popular.
Agogô - s. m. instrumento de música religiosa, composto de dois sininhos metálicos desiguais, que se bate com uma varinha igualmente de metal.
"Alfinete" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) s. m. faca, estoque.
"Alto da sinagoga" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) s. m. rosto, cabeça.
Angola - s. f. 1. Nome de um país africano. José Matias Salgado diz que o nome primitivo era Ndoango, que os portugueses fizeram Dongo ou Ndongo como registra Quintão, traduzido por canoa grande. Na língua bunda esta palavra dongo significa um tipo de embarcação, a canoa, toda construída de um só pau; sendo muito semelhante à figura do reino de Angola, deram-lhe os antigos o nome de Dongo, que parece bem apropriado. O nome atual de Angola foi dado pelos portugueses, pelo fato de os reis ou sobas da região serem chamados Ngola, daí a origem do topônimo Angola. 2. Designa a capoeira chamada Angola, em oposição àquela chamada Regional. 3. Designa um dos toques de berimbau para o jogo de capoeira.
Angolêro - adj. m. Corruptela de angoleiro, derivado de Angola. Designa o jogador da capoeira chamada Angola.
Anum - s. m. Pássaro preto do gênero Crotophaga, Linneu. É um pássaro popularíssimo no nordeste do Brasil, que a imaginação popular associa ao negro, de maneira jocosa. Assim, quando um negro tem os lábios muito grossos, diz-se que tem bico de anum. O termo vem do tupi anu, vulto preto, indivíduo negro.
Apulcro de Castro - Além das maltas, há indícios de outras formas coletivas de organização dos capoeiras, nos instantes finais da escravidão no país. Observa-se, por exemplo, nítida aproximação entre capoeiristas e abolicionistas no depoimento do jornalista Carl Von Koseritz (Imagens do Brasil, publicado na Alemanha em 1885) ao comentar o linchamento do negro Apulcro de Castro, proprietário do pasquim de escândalos Corsário:
"[alguns dias depois do linchamento] ao cair do crepúsculo, grandes quantidades de capoeiras (negros escravos amotinados) e semelhantes 'indivíduos catilinários' se reuniram na praça de São Francisco e começaram, ali e na rua do Ouvidor, a apagar os bicos de gás, e, logicamente, a destruir os lampiões, enquanto gritavam alto e bom som "Viva a Revolução" (...) o Rio tem nos seus capoeiras um mau exemplo e deles se aproveita a propaganda revolucionária dos abolicionistas, sublevando os homens de cor pela morte do negro Apulcro (...)."
Aquinderreis - interj. Corruptela de aqui d'el-Rei. É uma oração elíptica, onde falta o verbo acudam, que formaria acudam aqui d'el-Rei. Era a maneira de se pedir socorro antigamente, por se entender el-Rei o único capaz de socorrer e dar proteção armada a alguém.
Armada - s. f. Golpe contundente do jogo de Capoeira. Um dos movimentos giratórios básicos do jogo, no qual o capoeirista gira sobre seu eixo, com uma das pernas estendidas horizontalmente, visando atingir o adversário com o lado externo do pé, nas costelas ou na cabeça.
Arpão de cabeça - s. m. É uma cabeçada aplicada no peito ou no abdome do adversário. Deve-se tomar o cuidado de entrar com as mãos cruzadas pouco abaixo da cabeça, para anular a possível joelhada no rosto.
Arrastão - s. m. Quando acossado frontalmente, o capoeirista projeta-se para frente e para baixo, buscando agarrar as pernas do adversário na altura dos calcanhares e, num movimento brusco, puxá-las para cima, enquanto, com a cabeça na altura do abdome do oponente, empurra-o para trás, derrubando-o. É muito perigoso aplicá-lo, porque, se não for bastante rápido, o capoeirista expõe-se a receber uma joelhada no rosto.
"Arriar" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) v. deixar de jogar capoeira.
Aruandê - s. m. Trata-se do vocábulo Luanda, acompanhado de um a protético, seguido da troca do l pelo r na referida palavra e um ê exclamativo. Daí a composição a+Luanda+ê.
Asfixiante - s. m. Soco, murro direto aplicado na região inferior do rosto do oponente. Segundo Mestre Bola Sete (A Capoeira Angola na Bahia, Pallas, Rio de Janeiro, 1997), é golpe introduzido por Mestre Bimba, e que, como é o caso da cintura desprezada, dos balões e das gravatas, fazia parte das seqüências criadas pelo mestre, mas só era aplicado nos treinamentos realizados no C.C.F.R. e pelos demais praticantes da capoeira regional entre si, em suas respectivas Academias e jamais utilizados no jogo contra capoeiristas de outras escolas, que não utilizassem o método de Bimba.
Aú - s. m. Movimento básico do jogo de Capoeira, utilizado como fuga e deslocamento. Projetando-se lateralmente, o capoeirista leva as mãos ao chão (uma, depois a outra) apoiando-se nelas enquanto eleva as pernas, como se "plantasse uma bananeira", completando o giro e voltando à posição inicial, de pé.
Aviso - Segundo Waldeloir Rego, Mestre Canjiquinha (Washington Bruno da Silva) usava um toque chamado de "Aviso", que seu mestre Aberrê dizia ser tocado por um observador, um tocador que ficava num oiteiro, vigiando a presença do senhor de engenho, capitão do mato ou a polícia. Tão logo era sentida a presença de um deles, os capoeiristas eram avisados por meio desse toque. Em nossos dias, o comum a todos os capoeiras é o toque chamado "Cavalaria", usado para denunciar a presença da polícia montada, do conhecido Esquadrão de Cavalaria, cuja grande atuação na Bahia ocorreu no tempo do chefe de polícia chamado Pedrito (Pedro de Azevedo Gordilho), que perseguia candomblés e capoeiristas, passando para o folclore, através da imaginação popular, em cantigas como:
Toca o pandeiro
Sacuda o caxixi
Anda depressa
Qui Pedrito evém aí.
Axé - s. m. 1. Cada um dos objetos sagrados do orixá - pedras, ferros, recipientes, etc. - que ficam no peji das casas de candomblé. 2. Alicerce mágico da casa do candomblé. 3. Axé designa em nagô a força invisível, a força mágico-sagrada de toda divindade, de todo ser animado, de todas as coisas. Corresponde, grosso modo, à noção tão cara aos antropólogos, de mana. É a força sagrada, divina, que todavia não pode existir fora dos objetos concretos em que se encontra, de tal modo que a erva que cura é axé, e que o alimento dos sacrifícios é também axé.

- B -
Babá - s. m. Termo ioruba, significa pai. Pai ou ancestral, no culto ioruba. Pai-de-santo.
Bahia - s. f. Nome com que se designa um acidente geográfico e um Estado da federação do Brasil. O acidente geográfico é a Bahia de Todos os Santos, que recebeu esse nome de seu descobridor, o Capitão-mor Cristóvão Jacques, que, encontrando-se diante de uma larga e ampla enseada, denominou-a baía. Como a descoberta foi no dia 1o. de novembro de 1526, dia em que a Igreja festeja todos os santos, então o acidente passou a se chamar Bahia de Todos os Santos, estendendo-se a denominação ao Estado da federação.
"Baiana" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) s. f. Joelhada que se dá depois de se haver saracoteado para tapear o inimigo.
Bamba - [Do quimbundo mbamba.] s. m. 1. Valentão. O exímio capoeirista. 2. Pessoa que é autoridade em determinado assunto.
Bananeira - s. f. Movimento pelo qual o capoeirista se movimenta de cabeça para baixo, equilibrando-se sobre as mãos.
Banda - s. f. Golpe desequilibrante, proveniente do batuque (ver o verbete abaixo), introduzido na Capoeira por Mestre Bimba. Há vários tipos de bandas: de frente, de costas, cruzada, traçada.
"Banho de fumaça" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) s. m. Tombo.
Banto - [Do cafre ba-ntu, homem, pessoa] s. m. Indivíduo dos bantos, povo negro da África Central ao qual pertenciam, entre outros, os negros escravos chamados no Brasil angolas, cabindas, benguelas, congos, moçambiques. Banto é família lingüística e não etnográfica ou antropológica. Inclui duzentas e setenta e quatro línguas e dialetos aparentados.
Banzo - s. m. Nostalgia mortal dos negros da África: "Uma moléstia estranha, que é a saudade da pátria, uma espécie de loucura nostálgica ou suicídio forçado, o banzo, dizima-os pela inanição e fastio, ou os torna apáticos e idiotas." (João Ribeiro, História do Brasil, p.207)
Bará - [Do nagô] s. m. É uma qualidade de Exu, deus nagô, mensageiro entre os demais deuses e os humanos. Etnograficamente falando, Bará é chamado todo Exu de caráter pessoal ou privado. Assim, cada deus tem o seu Exu ou escravo, como também se diz, de caráter privado, que se chama Bará, daí ouvir-se falar em Bará de Oxossi, Bará de Oxalá, Bará de Ogum e assim por diante. O mesmo acontece com o eledá (Deus guardião da pessoa) de cada indivíduo, que também tem o seu Bará. Todo Bará leva um nome que o distingue dos demais e se identifica com seu dono.
Baraúna - s. f. Designa uma árvore de grande porte, Melanoxylon barauna, Schot. É termo tupi de ybirá-una, a madeira preta.
Barravento - s. m. 1. O mesmo que barlavento. Termo de origem ainda incerta. É termo náutico já registrado pelo Barão de Angra, com o significado de "lado donde sopra o vento". 2. Designa também o ato de uma pessoa perder o equilíbrio do corpo, como se sentisse uma ligeira tontura. 3. Nome que se dá a um toque litúrgico, nos candomblés de nação Angola, assim como aos cambaleios que dá qualquer pessoa antes de ser totalmente possuída pelo orixá dono de sua cabeça.
Barro Vermelho - s. m. Topônimo designativo de um lugarejo existente na ilha de Itaparica, na Bahia.
Batuque - s. m. 1. Designação comum às danças negras acompanhadas por instrumentos de percussão. 2. Luta popular, de origem africana, também chamada de batuque-boi; muito praticada nos municípios de Cachoeira e de Santo Amaro, e na capital da Bahia. A tradição indica o batuque-boi como de procedência banto. Diz Édison Carneiro (Negros Bantos): "A luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez. Estes, dado o sinal, uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os testículos. Havia golpes interessantíssimos, como a encruzilhada, em que o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma raspa, e ainda como o baú, quando as duas coxas do atacante davam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores era concentrado em ficar em pé, sem cair. Se, perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria perdido, irremediavelmente, a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os batuqueiros em banda solta, isto é, equilibrados numa única perna, a outra no ar, tentando voltar à posição primitiva".
Bênção - s. f. Golpe contundente, ou apenas desequilibrante, do jogo de Capoeira. Um dos movimentos básicos, em que o capoeirista aplica um chute com a planta do pé na altura do plexo solar do adversário.
Benguela - (topônimo) s. m. Corruptela de banguela ou banguelo. Pessoa sem dentes; sem os incisivos. Encontra-se o vocábulo em algumas "cantigas de escárnio". Ex:
"Acho ser coragem sua
Me convidar pra martelo,
Que eu não respeito outro homem
Quanto mais um amarelo,
Que, além de amarelo, é torto
É, além de torto, é banguelo."
O costume de limar os dentes, por motivos estéticos ou religiosos, é encontrado em lugares diversos. O vocábulo interessa à etnologia brasileira por estar ligado com uma fonte exportadora de escravos em Angola. Os negros banguelas ou ganguelas, liumbas, loenas cortam os dentes.
Berimbau - (Ver página Os Instrumentos, em Música)
Besôro - s. m. 1. Corruptela de besouro. A maioria dos lingüistas considera desconhecida a origem do termo. Designação comum aos insetos coleópteros. 2. Na capoeira, geralmente é nome próprio personativo, designando o capoeirista Manuel Henrique, conhecido como Besouro Cordão de Ouro, ou Besouro Mangangá, um dos heróis míticos da capoeira.
Besouro Cordão de Ouro - Nome próprio personativo. Ver Besôro (2).
Biriba - s. f. É a madeira mais comumente usada para se confeccionar a verga do berimbau.
Boca-de-calça - s. f. Golpe desequilibrante do jogo de Capoeira. O capoeirista, aproveitando-se de um descuido do adversário, segura-lhe a bainha das calças ou mesmo as pernas na altura dos calcanhares, puxando-o em sua direção, para derrubá-lo para trás.
"Bracear" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) v. Dar pancada com os braços.
"Bramar" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) v. Gritar o nome da província ou casa a que pertence o capoeira; no século XIX, no Rio de Janeiro, os capoeiras dividiam-se em maltas, cada uma dominando uma freguesia (ou província), e se enfrentavam amiúde.
Brevenuto - s. m. Corruptela de Bevenuto. Nome próprio personativo, do italiano benvenuto, bem-vindo.
Burumbumba - s. m. Uma das denominações do berimbau, registrada por Fernando Ortiz, que tem trabalhos extraordinários sobre a etnografia afro-cubana. Ortiz fornece-nos uma informação valiosa: a do uso do berimbau nas práticas religiosas afro-cubanas, coisa que não se tem notícia de outrora se fazer no Brasil, e nem tampouco em nossos dias, a não ser nas práticas religiosas de após o último Concílio Ecumênico, com o surgimento de missas regionais, como a conhecida pelo nome de Missa do Morro e outras, onde o berimbau, juntamente com outros instrumentos africanos, tem papel importante. (Veja mais sobre o berimbau em Instrumentos.

- C -
Cabaça - s. f. (Cucurbita lagenaria, Linneu) É uma planta rampante. De uso múltiplo e secular entre os utensílios domésticos, herdados da indiaria. Usa-se na construção do berimbau: numa de suas extremidades, amarra-se uma cabaça, e esta, quanto mais seca estiver, melhor. Faz-se na cabaça uma abertura na parte que se liga com o caule e, na parte inferior, dois furinhos por onde passará o cordão que vai ligá-la ao arco de madeira e ao fio de aço.
Cabecêro - s. m. Corruptela de cabeceiro, derivado de cabeça, do latim capitiu. Cabeceiro designa o capoeira que usa, com freqüência, golpes com a cabeça.
Cabinda - s. 2 g. Dizem cambinda, no Brasil. 1. Região ao norte de Angola, entre o rio Zaire, o ex-Congo belga e o Atlântico. 2. Foi sinônimo do escravo africano. Indivíduo dos cabindas, povo banto da região de Cabinda. 3. A língua dos cabindas. 4. Dança mímica popular afro-brasileira, parte de certos maracatus em que os participantes dançam pulando de cócoras à maneira de sapos.
Cabôco - s. m. Corruptela de caboclo, de origem ainda controversa. Significa o nascido de pai indígena e mãe africana e, de um modo geral, designa o indígena do Brasil e da América.
Cabra - Além de ser designativo de um animal, é também o do mulato escuro e do indivíduo agressivo e de mau caráter. Esse tipo de gente sempre inquietou a segurança pública.
Cabula - s. m. Nome de um bairro de Salvador. Termo de origem ainda desconhecida. Esse bairro foi refúgio de negros africanos e até hoje está lá a marca de suas presenças, com os inúmeros candomblés, sobretudo os de nação Angola, que possuem um toque chamado cabula, daí a provável origem do nome do bairro.
"Caçador" - s. m. tombo que o capoeira dá, arrastando-se no chão sobre as mãos e um dos pés e estendendo a outra perna direita de encontro aos pés do adversário.
Calunga - s. f. 1. Divindade secundária do culto banto. Deusa do mar e também dos cemitérios (Angola); 2. O fetiche dessa divindade; 3. Boneca levada na procissão dos Maracatu.
Camará - s. m. Corruptela de camarada, do espanhol, "grupo de soldados que duermen y comen juntos" e este do latim vulgar cammara. No linguajar da capoeira, aparece com a acepção pura e simples de companheiro.
"Cambar" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) v. Passar de um partido para outro.
Camboatá - s. m. Designa uma qualidade de peixe pequeno, que vive em água doce. Teodoro Sampaio deriva de caabo-oatá, o que anda pelo mato. Não obstante ser popular a forma camboatá, há as alterações cambotá, camuatá e tamoatá.
Camunjerê - Termo desconhecido na sua origem e na sua acepção.
Candomblé - s. m. Termo de origem ainda desconhecida. Designa a religião que os africanos trouxeram para o Brasil. Sua maior área de expansão é na Bahia e é designação mais específica da religião dos povos nagôs. Existiu no Brasil uma dança chamada candombe, muito comum nos países da região do Prata. Como quase todos os folguedos dos negros, essa dança esteve sempre na mira policial. Os candombes eram feitos em casa, em recinto fechado, não obstante saírem às ruas nos dias propícios. Era um folguedo profano, com interligações religiosas com o candomblé, como é o afoxé.
Cão - s. m. Do latim canes. Em geral, aparece nas cantigas de capoeira com a acepção de demônio.
Ca ô cabiesi - Corruptela de Ka wo ká biyè sì, expressão com que os povos nagôs saúdam Xangô, deus do fogo e do trovão e que, segundo Johnson, foi o quarto rei lendário de Oyó, capital dos povos iorubás.
Capadócio - s. m. 1. De, pertencente ou relativo à Capadócia (Ásia Menor). 2. Que tem maneiras acanalhadas. 3. Impostor, trapaceiro, parlapatão. Era como alguns cronistas se referiam aos capoeiras, até começos do século XX.
Capitão-do-mato - s. m. Bras. Indivíduo que se dedicava à captura dos escravos fugidos. "Capitães-do-mato, assim se chamavam os caçadores de negros, aos quais a lei em regulamentos especiais concedia poderes discricionários contra aquelas miseráveis criaturas que fugiam ao jugo da escravidão." (João Ribeiro, História do Brasil.)
"Carrapeta" - s. m. Pequeno esperto e audacioso que brama desafiando os inimigos.
Casa-Grande - s. f. Construção que servia de habitação aos
senhores de engenho, no Brasil colonial. Caracterizava-se por grossas paredes de taipa ou de pedra e cal, coberta de palha ou de telha-vã, alpendre na frente e dos lados, telhados caídos num máximo de proteção contra o sol forte e as chuvas tropicais. Completada pela senzala, a casa-grande representa todo um sistema econômico, social, político: de produção (a monocultura latifundiária); de trabalho (a escravidão); de transporte (o carro de boi, o bangüê, a rede, o cavalo); de religião (o catolicismo de família, com capelão subordinado ao pater familias, culto dos mortos, etc.); de vida sexual e de família (o patriarcalismo polígamo); de higiene do corpo e da casa (o "tigre", a touceira de bananeira, o banho de rio, o banho de gamela, o banho de assento, o lava-pés); de política (o compadrismo). Foi ainda fortaleza, banco, cemitério, hospedaria, escola, santa casa de misericórdia amparando os velhos e as viúvas, recolhendo órfãos.
Cata-corumba - expressão cunhada por Mestre Suassuna para designar o agarramento no jogo da Capoeira, a imobilização do adversário, prática totalmente contrária às regras e ao espírito da Capoeira, apesar de muito utilizada hoje em dia, nestes tempos de desfiguração da arte/luta.
Cativo - adj. Que não goza de liberdade; escravo.
"Caveira no espelho" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) s. f. Cabeçada na cara.
Ceia dos camarões - O temido Major Vidigal instituiu uma seção de torturas para os capoeiristas, ironicamente chamada "Ceia dos Camarões". Curiosamente, Vidigal também era um capoeirista habilidoso.
Chamada - s. f. Um dos rituais da capoeira tradicional. As chamadas, também conhecidas como "passagens", erroneamente interpretadas como simples momentos de descanso durante o jogo, constituem um momento de extremo perigo; fazem parte dos rituais da capoeira tradicional, e visam a despertar a malícia dos seus praticantes. Quando for chamado, aproxime-se com bastante cautela, pois, dentro das normas da capoeiragem, o capoeirista que chama poderá aplicar o golpe que desejar, caso o outro aproxime-se sem o devido cuidado.
Chibata - s. f. 1. Vara delgada para fustigar; junco. 2. P. ext., chicote: cordel entrançado ou correia de couro, ligada ou não a um cabo de madeira, ordinariamente para castigar animais (ou escravos...) 3. Bras. Capoeira: Golpe traumatizante em que o capoeira, aproveitando-se de eventual posição abaixada do parceiro de jogo, apóia-se no chão com uma das mãos (como se fosse para um "pião-de-mão") e projeta todo o corpo por cima dos ombros; uma das pernas estará flexionada, e fará o apoio com a planta do pé no chão, quando o giro se completar; a outra, esticada, descerá qual chibatada sobre o corpo do oponente: ele, lá, que se cuide! Obs.: O texto correspondente no Novo Dicionário Aurélio, referente ao significado do termo chibata na Capoeira, é-nos, quase incompreensível; mestre Aurélio descreve talvez uma seqüência em que o capoeira tenta aplicar uma rasteira (em pé), erra o alvo, gira e se lança na chibata...
"Chifrada" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) s. f. Cabeçada.
Cocorocô - Voz onomatopaica emitida pelos galos.

- D -
Dança da malandragem - s. f. Outra das denominações da capoeira, esta colhida de Mestre Maneca Brandão, grande mestre da região de Itabuna.
Dendê - s. m. Planta da família das palmáceas (Elaesis guineensis, Linneu). Foi trazido para o Brasil pelos negros africanos, sem contudo se poder precisar a data exata. O fruto é o fetiche do orixá Ifá nos candomblés da Bahia, desvendando o futuro. O azeite é indispensável na culinária afro-brasileira. Dendê é pitéu, gostosidade, ou coisa boa, apreciável.
"Desgalhar" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) v. Fugir da polícia.
"Distorcer" - v. disfarçar ou retirar-se por qualquer motivo.
Dobrão - s. m. Moeda grande, antiga, de 40 réis, que os capoeiristas usavam para tocar o berimbau. O nome aplicou-se, por extensão, aos seixos arredondados ou às arruelas usados para o mesmo fim.

- E -
"É direito!" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) interj. É destemido!
"Encher" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) v. Dar bordoada.
"Endireitar" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) v. Enfrentar o inimigo.
"Espada" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) Senhora da Lapa. Cada uma das maltas, no Rio de Janeiro, ocupava uma freguesia (bairro) da cidade, província ou território que controlavam e disputavam entre si. Quando se enfrentavam, "bramavam" (gritavam) o nome da província a que pertenciam.

- F -
Faca-de-ponta - s. f. Instrumento perfuro-cortante, "arma branca" que portavam alguns capoeiristas nos embates de rua. Designa também um golpe, a cotovelada.
Frevo - s. m. Dança de rua e de salão, é a grande alucinação do carnaval pernambucano. O passo, que é a movimentação do frevo, é filho da capoeira; como nos conta Edison Carneiro (Cadernos de Folclore, 1971), "a hora final chegou para as maltas do Recife mais ou menos em 1912, coincidindo com o nascimento do frevo, legado da capoeira (melhor diria 'o passo', que é a dança; o frevo é a música que o acompanha). As bandas rivais do Quarto (4o. Batalhão) e da Espanha (Guarda Nacional) desfilavam no carnaval pernambucano protegidas pela agilidade, pela valentia, pelos cacetes e pelas facas dos façanhudos capoeiras que aos saracoteios desafiavam os inimigos: 'Cresceu, caiu, partiu, morreu!' A polícia foi acabando paulatinamente com os moleques de banda de música e com seus líderes, Nicolau do Poço, João de Totó, Jovino dos Coelhos, até neutralizar o maior deles, Nascimento Grande".

- G -
Gaiamun ou Guaiamun - s. m. Espécie de crustáceo da mesma família dos caranguejos (Cardisona guanhumi, Lattreille). Era a denominação de uma das gangues de capoeiras, conhecidas por "maltas", que infernizavam a vida do Rio de Janeiro no final do século XIX e começo do XX.
Gamelêra - s. f. Coruptela de gameleira, árvore da família das moráceas, pertencente ao gênero ficus. Árvore de grande porte, utilizada para fabricação de canoas, vasos e gamelas.
Gangambá - s. m. Corruptela de mangangá, que deriva de mamangaba ou mamangava. 1. Designa as espécies de insetos himenópteros da família dos bombídeos, que representam as grandes abelhas sociais. Constroem ninho no solo entre touceiras de capim
Gangazumba - "Grande Chefe", líder negro, chegou ao quilombo de Palmares no tempo da invasão holandesa. Era um africano alto e musculoso. Tinha, provavelmente, temperamento suave e habilidades artísticas - como têm, em geral, os nativos de Allada, nação fundada pelo povo ewe, na Costa dos Escravos. Em 1670, Gangazumba reinava sobre todos os povoados que constituíam Palmares. Juntos, cobriam mais de seis mil quilômetros quadrados: Macaco, na Serra da Barriga (oito mil moradores); Amaro, perto de Serinhaém (cinco mil moradores); Subupira, nas fraldas da Serra da Juçara; Osenga, próximo do Macaco; aquele que mais tarde se chamou Zumbi, nas cercanias de Porto Calvo; Aqualtene, idem; Acotirene, ao norte de Zumbi (parece ter havido dois Acotirenes); Tabocas; Dambrabanga; Andalaquituche, na Serra do Cafuxi; Alto Magano e Curiva, perto da atual cidade pernambucana de Garanhuns; Gongoro; Cucaú; Pedro Caçapava; Guiloange; Una; Catingas; Engana-Colomim... quase trinta mil viventes, no total. Sob o comando de Gangazumba, as aldeias palmarinas haviam se transformado num Estado, com exército, Conselho geral das lideranças, ministros (fâmulos), etc. Gangazumba tratava os ministros de filhos, o ministro da guerra de irmão, os chefes de aldeias (ou mocambos) de sobrinhos, os funcionários e oficiais do exército de netos; as mulheres idosas eram mães.
Gereba - Nome próprio. Laudelino Freire e Figueiredo trazem-no com a acepção de indivíduo desajeitado e gingão. Na cantiga, segundo Waldeloir Rego, aparece como apelido de tipos populares. "Quando garoto, conheci um desses tipos com o apelido de Gereba, que a meninada sempre importunava, gritando: Gereba!... Quebra Gereba!...
Gunga - s. m. Palavra de origem bunda, designa o berimbau, instrumento musical usado na capoeira.

- H -
*não encontrei nenhuma palavra com a letra H.

- I -
Idalina - s. f. Nome próprio personativo. De Idalia, "nome de uma cidade da ilha de Chipre, onde havia um templo de Vênus, pelo que os nossos poetas dizem freqüentemente Vênus Idalia. Nos Lusíadas, IX, 25: Idalios amantes".
Iê! - Interj. Corruptela de ê! Seu uso é exclusivo nas canções de capoeira. É como o mestre de Capoeira chama para si a atenção de todos.
Ilha de Maré - s. f. Nome de uma ilha pertencente ao Estado da Bahia.
Imbora - adv. Corruptela de embora, que por sua vez deriva da locução em boa hora, que Leite de Vasconcelos acha que não é outra coisa senão resquício da superstição antiqüíssima das horas boas e más, a qual ainda hoje existe no Brasil. Embora, além de funcionar como advérbio, funciona também como conjunção, interjeição e substantivo - como sinônimo de parabéns, felicitações. O oposto a embora (em boa hora), dentro do ponto de vista das superstições, é em hora má, usadíssimo na língua antiga, especialmente em Gil Vicente, sob as variantes eramá, eremá, aramá, ieramá, earamá, e muitieramá.
Inducação - s. f. Corruptela de educação, derivado do latim educatione, educação, instrução.
Inganadô - adj. Corruptela de enganador, derivado de enganar, que por sua vez vem do latim tardio ingannare.
Insinô - v. Corruptela de ensinou, do verbo ensinar, que provém do latim hipotético insignare, que se espalhou por diversas línguas românicas.
Itabaianinha - Nome de uma cidade do Estado de Sergipe. Diminutivo de Itabaiana,
Iúna - s. f. Corruptela de inhuma ou anhuma. [Do tupi ña 'um, 'ave preta', com aglutinação do artigo] 1. Ave anseriforme, da família dos anhimídeos (Anhuma cornuta). Mestre Maneca Brandão ("O Canto da Iúna - A Saga de um Capoeira", Itabuna/BA, 1ª ed.) acrescenta: "símbolo da sagacidade e da matreirice, (...) a ave existe realmente e habita os brejos, charcos, lagoas, etc. O termo "Iúna" é uma corruptela de seu verdadeiro nome: Inhuma ou Anhuma. Ela tem o porte de um peru, com pernas longas e pés de dedos grandes, com dois esporões carpianos em cada asa, além de um longo espinho córneo no alto da cabeça. Sua plumagem é bruno enegrecida e negra. [Sin.: alicorne, anhima, cametau, cauintã, cavitantau, cauintau, inhaúma, inhuma, licorne, unicorne, unicórnio.] 2. Nome dado a um toque de berimbau, muito melodioso, usado no jogo da capoeira. Toque criado por Mestre Bimba, para jogo rasteiro, ligado e com balões, usado somente por mestres de Capoeira.

Iúna, ou Inhuma, ou ainda Anhuma,
ave-símbolo da sagacidade e matreirice.

- J -
Jogá - v. Corruptela de jogar. Meyer-Lübke, Diez, Carominas, Pidal e Wartburg derivam de jocari, brincar, divertir-se.


- K -
*não encontrei nenhuma palavra com a letra K.

- L -
Lambaio - s. m. Bajulador, adulador. O vocábulo deve se prender ao verbo lamber, derivado de lambere, lamber, lavar, com representação nas línguas românicas.
Lampião - s. m. Nome próprio do famoso cangaceiro do Nordeste do Brasil, Virgolino Ferreira da Silva, nascido na paróquia de Floresta do Navio, em Pernambuco, a 4 de junho de 1898, e morto numa gruta da Fazenda Angicos, Porto da Folha, em Sergipe, na madrugada de 28 de julho de 1938, abatido com um tiro de fuzil na cabeça, pelo soldado Antônio Honorato da Silva, do destacamento da Polícia Militar de Alagoas, comandado pelo Capitão João Bezerra da Silva. Sua companheira e amásia, Maria Bonita, caiu ao seu lado e mais nove companheiros, degolados para comprovação de que a horda tinha sido extinta. Vaqueiro destemido, amansador de cavalos e burros bravios, fazia obras de couro caprichadas, tocava animadamente a sanfona de oito baixos. Em 1926, já era famoso, celebrado, conhecido e com uma patente de capitão, dada pelo Padre Cícero, do Juazeiro, datada do "Quartel General das Forças Legais, 12 de abril". Do Ceará à Bahia, foi o mais temível chefe de cangaceiros de todos os tempos sertanejos. Estrategista nato, incomparável conhecedor da topografia regional, enfrentou a Polícia Militar de sete Estados, em mais de cem encontros mortíferos.
Lemba - s. m. Corruptela do daomeano Elegba, o mesmo que Elegbará, um dos designativos de deus nagô Exu. Os jejes (negros do Daomé) foram quase absorvidos pelos nagôs, especialmente no domínio religioso e social na Bahia. Um dos orixás jejes que resistiu e deixa ainda ser visível é Legba, Elegbará, o senhor Leba, o homem das encruzilhadas, e alguns vestígios do culto ofídico, a veneração à serpente, base litúrgica do Vodu nas Antilhas são encontrados, embora em condições apenas perceptíveis.
Licuri - s. m. Palmeira silvestre que possui pequenos cocos. (Cocos coconata, Mart.) Teodoro Sampaio diz ser a planta comuníssima, nas regiões secas do norte do Brasil, mas com a denominaçào mais freqüente de ouricury, que ele deriva de airi-curii, o cacho amiudado, e dá as variantes uricuri, aricuri, licuri, nicury, iriricury e mucury. Em 1587, quando escreveu o Tratado Descritivo do Brasil, Gabriel Soares de Souza já fazia o apanágio dos ouricuris: - "As principais palmeiras bravas da Bahia são as que chamam ururucuri, que não são muito altas, e dão uns cachos de cocos muito miúdos do tamanho e cor dos abricoques por ser brando e de sofrível sabor; e quebrando-lhe o caroço, d'onde se lhe tira um miolo como das avelãs, que é alvo e tenro e muito saboroso, os quais coquinhos são mui estimados de todos."
Loiá - Contração de lá oiá, corruptela de lá olhar.
Luanda - s. f. Nome de uma cidade africana e capital de Angola. Uma das principais cidades de onde partiam os navios negreiros com destino ao Brasil. Anteriormente, o nome da capital era somente São Paulo da Assunção, dado pelos portugueses. Mais tarde, substituíram da Assunção por de Luanda, ficando São Paulo de Luanda, ou simplesmente Luanda, como é mais conhecida em nossos dias. Luanda, segundo Cannecattin, quer dizer tributo.


- M -
Maculelê – Conta-se a história de que Maculelê era um negro fugido que tinha doença de pele. Ele foi acolhido por uma tribo indígena e cuidado por eles, mas ainda assim não podia realizar todas as atividades com o grupo, por não ser um índio também.
Certa vez, Maculelê foi deixado sozinho na aldeia, quando a tribo saiu para caçar. E eis que uma tribo rival aparece para dominar o espaço.
Maculelê lutou sozinho contra o grupo rival e, heroicamente, venceu a disputa. Desde então passou a ser considerado um herói na tribo.
A dança com bastões simboliza a luta de Maculelê contra os guerreiros.
Há quem diga que o Maculelê surgiu em Santo Amaro da Purificação, entre os negros de engenho, numa forma de mostrar a luta dos escravos contra o feitor, daí a dança ter um "mestre" com uma grima maior, que "bate" em todos os demais.
Foi Popó do Maculelê o responsável pela sua divulgação, formando um modesto grupo com seus filhos, netos e outros negros da Rua da Linha, e se apresentava no dia 2 de Fevereiro, na festa da Padroeira de Santo Amaro, Nossa Senhora da Purificação.
Popó era condutor do trólei puxado a burros, no tempo que ainda existia o vapor (linha regular de navios de Santo Amaro a Salvador).
Nesse tempo a cidade era servida por uma linha de bondes puxados a burros, que se chamava Trilhos Urbanos, que durante muito tempo foi uma marca curiosa dessa cidade, extinta no final da década de 50.
Segundo Popó, o Maculelê era praticado anteriormente por Negros Malês.
Os africanos diziam que esta dança era mais uma forma de luta contra os horrores da escravidão e do cativeiro. Enquanto os negros dançavam com os cepos de cana no meio do canavial, cantavam músicas que evidenciavam o ódio. Porém, eles as cantavam nos dialetos que trouxeram da África para que os feitores não entendessem o sentido das palavras. Assim como a "brincadeira de Angola" camuflou a periculosidade dos movimentos da capoeira, a dança do maculelê também era uma maneira de esconder os perigos das porretadas desta dança.
Aos golpes e investidas dos feitores contra os negros, estes se defendiam com largas cruzadas de pernas e fortes porretadas que atingiam principalmente a cabeça ou as pernas dos feitores de acordo com o abaixar e levantar do negro com os porretes em punho. Além desta defesa, os negros pulavam de um lado pro outro dificultando o assédio do feitor. Para as lutas travadas durante o dia, os negros treinavam durante a noite nos terreiros das senzalas com paus em chama que retiravam das fogueiras, trazendo ainda mais perigo para o agressor.
O maculelê pode ser feito com porretes de pau, facões ou facas, mas, alguns grupos praticam o maculelê com tochas de fogo ou "tições" retirados na hora de uma fogueira que também fica no meio da roda junto com os dançarinos.
O maculelê é portanto, um bailado guerreiro que foi desenvolvido por homens negros, compreendendo dançadores e cantadores, todos comandados por um mestre, denominado “macota”. Os participantes usam um bastão de madeira com cerca de 60 cm de comprimento, exceto o macota, que tem um mais longo. Os bastões são batidos uns nos outros, em ritmo forte e compassado. Estas pancadas presidem toda a dança, funcionando como marcadoras do pulso musical.
Maitá - Parece ser corruptela de Humaitá, com síncope da sílaba inicial. Em face dos episódios da guerra do Brasil com o Paraguai, justamente na época em que os capoeiras começavam a chegar ao auge em suas atividades, as cantigas se referem sempre a Humaitá, daí poder-se admitir a hipótese acima.
Major Miguel Nunes Vidigal - Um ano após a chegada de D. João VI (1808), criou-se a Secretaria de Polícia e foi organizada a Guarda Real de Polícia, sendo nomeado para sua chefia o major Nunes Vidigal, perseguidor implacável dos candomblés, das rodas de samba e especialmente dos capoeiras, “para quem reservava um tratamento especial, uma espécie de surras e torturas a que chamava de Ceia dos Camarões”. O major Vidigal foi descrito como "um homem alto, gordo, do calibre de um granadeiro, moleirão, de fala abemolada, mas um capoeira habilidoso, de um sangue-frio e de uma agilidade a toda prova, respeitado pelos mais temíveis capangas de sua época. Jogava maravilhosamente o pau, a faca, o murro e a navalha, sendo que nos golpes de cabeça e de pés era um todo inexcedível". Sobre ele, também disse Mário de Andrade: "O Major Vidigal, que principia aparecendo em 1809, foi durante muitos anos, mais que o chefe, o dono da Polícia colonial carioca. Habilíssimo nas diligências, perverso e ditatorial nos castigos, era o horror das classes desprotegidas do Rio de Janeiro. Alfredo Pujol lembra uma quadrinha que corria sobre ele no murmúrio do povo:
Avistei o Vidigal.
Fiquei sem sangue;
Se não sou tão ligeiro
O quati me lambe.
(Mário de Andrade, introdução às Memórias de um Sargento de Milícias, São Paulo, 1941).
Malta - s. f. Gangues ou hordas de capoeiras que infestavam e infernizavam as ruas da cidade do Rio de Janeiro, no final do século XIX e começo do século XX, mancomunadas com a prostituição.
Malungo - s. m. Companheiro, camarada; da mesma condição. Etim.: os negros chamavam malungos aos companheiros de bordo ou viagem, generalizando-se depois no Brasil o epíteto; provém do locativo conguês m'alungu, contração de mualungu, no barco, no navio (Jacques Raimundo, O Elemento Afro-Negro na Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, 1933). ...
Mandacaru - s. m. Planta da família das cactáceas. Derivam-na de mandacaru, o feixe ou molho pungente.
Mandinga - Feitiço, despacho, mau-olhado, ebó. Os negros mandingas eram tidos como feitceiros incorrigíveis. Os mandingas ou malinkes, dos vales do Senegal e do Níger, foram guerreiros conquistadores, tornados muçulmanos. "Este povo, a que os negros chamavam mandinga, os espanhóis mandimença e masmol, maniinga (do radical mani ou mali, o hipopótamo, visto que eram povos totêmicos, e a terminação nke, povo), tinha uma índole guereira e cruel. Não obstante a influência maometana, eram considerados grandes mágicos e feiticeiros, e daí o termo mandinga, no sentido de mágica, coisa-feita, despacho, que os negros divulgaram no Brasil" (Artur Ramos, Culturas Negras no Novo Mundo, citado em Câmara Cascudo, Dicionário do Folclore Brasileiro).
Mandinguêro ou Mandiguêro - adj. Corruptela de mandingueiro. Na capoeira, designa o capoeirista ladino, maneiroso, cheio de negaças, truques,disfarces e ardis.

Mangangá - O mesmo que gangambá.
Maracangalha - s. f. Nome próprio designativo de um lugarejo no Estado da Bahia. Famoso no mundo da capoeira, graças às façanhas do temível capoeirista Besouro, que lá morreu, assassinado com um golpe de faca de tucum. O termo foi imortalizado depois pelo grande cancioneiro Dorival Caymmi, com o samba que fez o maior sucesso na época:
Eu vou pra Maracangalha, eu vou
Eu vou de liforme branco, eu vou
Eu vou de chapéu de palha, eu vou
Eu vou convidar Anália, eu vou
Se Anália não quiser ir
Eu vou só, eu vou só, eu vou só
Se Anália não quiser ir
Eu vou só,
Eu vou só, eu vou só sem Anália,
Mas eu vou.
A origem do nome ainda é desconhecida. Os habitantes do local dão a seguinte explicação: "Em época remota, que ninguém sabe precisar, mas que deve ter aí seus 200 anos, nos primórdios dos antigos engenhos, bandos de ciganos acampavam ali, constantemente, em suas andanças pelo sertão. Ao prepararem os animais para as viagens, gritavam uns para os outros: 'Amarra a cangalha'. Os pretos escravos pegaram a coisa e passaram a repetir a palavra deturpada, para zombar dos ciganos. Com o passar dos tempos, o uso se arraigou e Maracangalha entrou para a geografia do Brasil".
Maracatu - s. m. Grupo carnavalesco pernambucano, com pequena orquestra de percussão, tambores, chocalhos, gonguê (agogô dos candomblés baianos e das macumbas cariocas), que percorre as ruas, cantando e dançando sem coreografia especial. Respondem em coro ao tirador de loas, solista. Composto em sua maioria de negros. É visível vestígio dos séquitos negros que acompanhavam os reis de congos, eleitos pelos escravos, para a coroação nas igrejas e posterior batuque no adro, homenageando a padroeira ou Nossa Senhora do Rosário. Perdida a tradição sagrada, o grupo convergiu para o carnaval, conservando elementos distintos de qualquer outro cordão na espécie.
Marimbondo - s. m. (do quimbudo ma, pref. pl., + rimbondo, 'vespa'.)
1. Designação comum aos insetos himenópteros da família dos vespídios. 2. Alcunha que os portugueses davam aos brasileiros na época da independência. 3. Alcunha dos sediciosos pernambucanos que em 1852 se manifestaram em protesto contra a execução do decreto imperial de 18 de junho de 1851, que instituiu o registro de nascimentos e óbitos. 4. Dança popular em Goiás. "Os assistentes formam um círculo; o dançante fica ao meio deste, com o pote equilibrado sobre a cabeça. Os do círculo gritam: "Negro, o que qui tem?" Ele responde: "Maribondo, Sinhá!", passando as mãos pelo rosto e pelo resto do corpo, como se tirasse marimbondos que o mordessem, dançando, pulando sem se derramar a água do pote, encimada por um cuité. O instrumento próprio é a caixa ou o pandeiro. Quando o dançante se cansa, ajoelha-se aos pés do assistente que for escolhido para substituí-lo. Este, não querendo sair a dançar, pagará uma multa em bebidas: vinho, aguardente, etc., conforme os passes. (A. Americano do Brasil, Cancioneiro de Trovas do Brasil Central, S. Paulo, 1925).
Martelo - s.m. 1. Nome dado pelo sertanejo ao verso de dez sílabas, com seis, sete, oito, nove ou dez linhas. Câmara Cascudo explica a razão da denominação de martelo para este tipo de verso: "Pedro Jaime Martelo (1665-1727), professor de literatura na Universidade de Bolonha, diplomata e político, inventou os versos martelianos ou martelos, de doze sílabas, com rimas emparelhadas. Esse tipo de alexandrino nunca se adaptou na literatura tradicional brasileira, mas o nome ficou, origem erudita visível em sua ligação clássica com os primeiros letrados portugueses do primeiro quartel do século XVIII. Cantar o martelo, improvisá-lo ou declamá-lo, respondendo ao adversário no embate do desafio, é o título mais ambicionado pelos cantadores". 2. Nome de um golpe de capoeira; chute lateral que pode visar as costelas ou a cabeça do adversário.
Muleque - [Do quimb. mu'leke, menino] s. m. Corruptela de moleque. 1. Negrinho. 2. Indivíduo sem palavra, ou sem gravidade. 3. Canalha, patife, velhaco. 4. Bras. Menino de pouca idade. 5. Engraçado, pilhérico, trocista, jocoso. [Fem.: moleca.]
Munganga - s. f. (Var. de moganga,termo de origem africana) 1. Caretas, trejeitos, esgares, momices; mogiganga. 2. Carícias, lábias.

- N -
Nagô - adj. Nome que se dá ao iorubano ou a todo negro da Costa dos Escravos que falava ou entendia o ioruba. Migeod (The Langs, of West Afri. II, 360) assinala que nagô é nome dado, no Daomé, pelos franceses ao iorubano: do efé anagó. Tem o feminino nagoa. Abundantemente exportados para o Brasil, os nagôs tiveram prestigiosa influência social e religiosa entre o povo mestiço, conservando, com os processos de aculturação, seus mitos e tradições sacras. Localizados em maior porção na Bahia, foram estudados, nos seus descendentes e projeção etnográfica e folclórica, por Nina Rodrigues, Manuel Querino, Artur Ramos, Édison Carneiro, etc. É o grupo negro mais conhecido em seu complexo social vivo. A persistência nagô determina o candomblé, macumba, catimbó, xangôs, sinônimo do primeiro vocábulo, reunião do seu cerimonial. Os sacerdotes, babalaôs, babas, babalorixás, o auxiliar axogum, pai, mãe, filha-de-santo, o ebó (feitiço), instrumentos musicais (tambores, agogô, aguê, adjá, afofiê), os contos da tartaruga, awon, a culinária que se tornou clássica na Bahia, com o vatapá, acaçá, abobó, acarajé, abará, o santuário peji, os orixás Obatalá (Orixalá ou Oxalá), Exu, Ogum, Oxumaré, Oxóssi, Omolu, Ibeiji, Ifá, Anambucuru, Iroco, Iansã, os todo-poderosos Xangô e Iemanjá, são elementos fixadores dessa prestigiosa presença na antropologia cultural.
Nagoa - s.m. Designação de uma das gangues de capoeiras, conhecidas por "maltas", que infernizavam a vida do Rio de Janeiro no final do século XIX e começo do XX.
Negaça - s. f. No jogo de capoeira, o ato de "negar o corpo", bambolear pra lá e pra cá, ameaçar o movimento e negá-lo; usada para confundir o oponente.
Nêgo - s. m. Corruptela de negro, que deriva do latim nigru, preto, negro. Designa a cor preta e o homem portador deste pigmento.
Nhem, nhem, nhem - Voz onomatopaica, representativa do choro de criança.

- O -
Ói - v. Corruptela de olhe, do verbo olhar. ...
Ôi! - Interj. Bras. Exprime espanto, chamamento, resposta ao apelo do nome, saudação jovial ao encontrar outrem, e indica, ainda, que não se ouviu bem o que foi dito ou perguntado (Aurélio).
Orubu - s. m. Corruptela de urubu (Cathartes pepa, Linneu). Designação comum às aves catartidiformes, da família dos catartídios, de cabeça pelada, que se alimentam de carne em decomposição.

- P -
Panhe - v. Corruptela de apanhe, do verbo apanhar, recolher algo do chão. Apanhar vem do espanhol apañar e este do latim pannus, pano.
Paraguai - s. m. Nome próprio designativo de um país da América do Sul. A palavra é de origem tupi e quer dizer Rio dos Papagaios.
Paraná - [Do tupi paraná, de pará = mar e ná = semelhante, logo semelhante ao mar.] s. m. Bras., Amaz. 1. Braço de rio caudaloso, separado deste por uma ilha. 2. Canal que liga dois rios. 3. Nome próprio designativo de um Estado da federação brasileira.
Patuá - s. m. Batista Caetano deriva de patigua, contraído em patuá de patauá, designando o cesto que as mulheres traziam às costas, amarrado à cabeça, com os pertences da rede. Simão de Vasconcelos, falando do estado de miséria em que viviam os índios, ao comentar o seu enxoval diz que "vem a ser uma rêde, um potiguá (que é como caixa de palhas) para guardar pouco mais que a rêde, cabaço, e cuya: o pote, que chamam igacaba, para os seus vinhos: o cabaço para suas farinhas, mantimentos, seu ordinario: a cuya para beber por ella: e o cão para descobridor das feras quando vão caçar. Estes somente vem a ser seus bens moveis, e estes levam consigo aonde quer que vão: e todos a mulher leva às costas, que o marido só leva o arco". Por analogia, patuá hoje em dia passou a designar um pequeno saquinho contendo axé (coisas de alto poder mágico) e que, conforme o preceito, quem o carrega, tem que usá-lo em contato com o corpo.
Pedido de arpão de cabeça - s. m. "Giro vertical sobre os pés, com os braços abertos, aguardando uma cabeçada, anulada com uma joelhada na face do colega, que já deve entrar com as mãos cruzadas, em defesa do joelho hostil". (A definição é de Mestre Decânio, que explica: "No 'Aurélio' encontramos... 'Arpão: ferro em feitio de seta fixado a um cabo para ser cravado na presa.' ... entendemos! ...a seta é a cabeça; o cabo é o tronco encurvado; as pernas são a força propulsora, procurando cravar o arpão [a cabeça] no peito exposto [braços abertos] de quem pede. Assim é o pedido de arpão de cabeça").
Pedrito - (Pedro de Azevedo Gordilho) Famoso chefe de polícia da Bahia,
Pindombê - s. f. Contração de Pindomba mais a interjeição ê!
Pindomba é corruptela de pindoba, espécie de palmeira (Palma Altalea compta, Mart.), muito alta e grossa, que dá flor como as tamareiras e o fruto em cachos grandes como os coqueiros, "cada um dos quais é tamanho que não pode um negro mais fazer que leva-lo às costas". (Gabriel Soares de Souza, 1587)

- Q -
Quilombo - s. f. [Do quimb. kilombo, capital, povoação, união.] s. m. Bras. 1. Valhacouto de escravos fugidos. 2. Folguedo, praticado no interior de AL durante o Natal, em que dois grupos numerosos, figurando negros fugidos e índios, vestidos a caráter e armados de compridas espadas e terçados, lutam pela posse da rainha índia, acabando a função pela derrota dos negros, vendidos aos espectadores como escravos; Quilombo dos Palmares. Quilombo (1) constituído de negros fugidos, os quais, no século XVII, se estabeleceram na Serra da Barriga, no interior de AL, formando uma república.

- R -
Raspa - s. f. Assim designavam os batuqueiros a rasteira, golpe desequilibrante muito conhecido na capoeira.
Rasteira - (Fem. substantivado do adj. rasteiro) s. f. Bras. 1. Movimento ardiloso, rápido e brusco, que consiste em meter o pé ou a perna entre as de outra pessoa, em luta, jogo ou simples brincadeira, e provocar-lhe a queda; calço, cambapé, pernada, rabanada, transpés, travessa. 2. Fig. Ato traiçoeiro; perfídia, golpe: "sempre de bom humor, ... sublinhando com um sorriso, se não uma risada de satisfação ou malícia, a resolução benéfica, o ato justo, a medida acertada, ou a rasteira, a manobra, o ardil, o golpe político contra o adversário." (Carlos de Gusmão, Boca da Grota, p.490) 3. Bras. Cap. Golpe desequilibrador em que o capoeirista, apoiado numa das mãos (ou não), se agacha sobre uma perna, enquanto a outra, esticada, descreve um semicírculo para a frente, procurando arrastar e derrubar o adversário; pernada. Dar ou passar uma rasteira em. Bras. 1. Levar vantagem sobre. 2. Enganar, lograr. 3. Derrubar.
Roupa de ver Jesus - s.f. A roupa de ir à missa; terno branco com que os capoeiristas de antigamente iam às rodas na Bahia, e que, no final, permanecia limpo, atestando a competência do jogador.

- S -
Sabiá - s. m. Espécie de pássaro canoro (turdus rufiventris, Lichtst.) "Criam-se em arvores baixas em ninhos outros passaros, a que o gentio chama sabiá poca, que são todos aleonados muito formosos, os quaes cantam muito bem" (Gabriel Soares de Souza, 1587).
"Sarandaje" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) s. f. miuçalha, pequenos capoeiras.
Saroba - s.2 gên.O mesmo que sarandaje. O capoeira que sabe apenas alguns rudimentos, e joga feio, com movimentação desfigurada.
"Senhora da cadeira" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) Um dos nomes de província que os capoeiristas das maltas gritavam em seus embates. Corresponde a Santana.
"Senhora da palma" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) Um dos nomes de província que os capoeiristas das maltas gritavam em seus embates. Corresponde a Santa Rita.
Sinhá - s. f. Corruptela de senhora. Ver verbete Sinhô.
Sinhô - s. m. Corruptela de senhor. Do latim seniore, mais velho. Na linguagem popular, senhor como pronome de tratamento foi adulterado em sinhô, assim como senhora em sinhá, ao lado de outra forma simplificada, seu, derivado de sinhô, e sá, derivado de sinhá. Os vocábulos sinhô e sinhá possuem os diminutivos yoyô para o primeiro e yayá para o segundo.

- T -
Tá - v. Corruptela de está, do verbo estar. Deriva do latim stare, estar de pé.
Tabulêro - s. m. Corruptela de tabuleiro, designa recipiente de madeira onde se põem comestíveis para serem vendidos. Deriva de tábua e este de tabula, ripa, mesa de jogo, prancha.
Treição - s. f. Corruptela de traição, do latim traditione, entrega. A forma hoje popular treição, existiu na língua antiga e foi usada por Camões.
Trivissia - s. f. Corruptela de travessia, ato ou efeito de atravessar uma região, um continente, um mar, etc. Vento de travessia é termo náutico, designativo do vento de través, isto é, contrário à rota que segue um navio.
Tumbeiro - s. m. Designa o navio negreiro, com alusão aos horrores pelos quais passavam os negros escravizados no bojo dessas embarcações; muitos morriam - de fome, sede, ferimentos e doenças - e eram lançados ao mar.

- U -
Urucungo - [Do quimb. ri'kugu = cova; existe nele um buraco.]s. m. Um dos nomes pelos quais é conhecido o berimbau.]

- V -
Vadiação - s. f. Ato ou efeito de vadiar; vadiagem. Designa o jogo da capoeira.
Vorta - s. f. Corruptela de volta. Designa uma "vez", no jogo de capoeira; cada vez que os capoeiristas jogam com um parceiro diferente;
"Velho Cansado" - (gíria antiga, transcritaem 1886 por Plácido de Abreu) Um dos nomes de província que os capoeiristas das maltas gritavam em seus embates. Corresponde a São Francisco.
"Velho Carpinteiro" - (gíria antiga, transcrita em 1886 por Plácido de Abreu) Um dos nomes de província que os capoeiristas das maltas gritavam em seus embates. Corresponde a São José.

- W -
*não encontrei nenhuma palavra com a letra W.

- X -
*não encontrei nenhuma palavra com a letra X.

- Y -
Yayá - s. f. Diminutivo de sinhá, corruptela de senhora. Ver o verbete sinhô.
Yoyô - s. m. Diminutivo de sinhô, corruptela de senhor. Ver o verbete sinhô.

- Z -
Zóio - Assimilação do s final do artigo plural os ao substantivo óio, corruptela de olho. Portanto, a expressão os olhos passou, na língua popular, para o zóio.

Fonte:
http://www.capoeiradobrasil.com.br/dicionario.htm